Ainda nos vemos gregos

Apolo, um dos Deuses do Olimpo, criou o arco, a flecha e a lira. A partir desse momento, nasceu também a cobardia de se poder ferir o outro à distância. Ou seja, já não era necessária a utilização da espada ou da luta corpo a corpo. O contacto físico começava a evaporar-se. 

O homem tem hoje a capacidade de matar a grandes distâncias. Esse acto transformou a barbárie. Lançar uma bomba é um crime cobarde, seguro, confortável e desmedido. Todos os dias vemos as notícias dos bombardeamentos, das crianças mortas, das famílias enterradas, da dor nos olhos de quem ainda os tem, do sofrimento nos rostos, da desumanização. A evolução do mundo segue no sentido de transportarmos a nossa maldade (que muitas vezes se confunde com a nossa verdade), a destruição do espaço segue no sentido de imaginarmos novas formas de criar guerras enquanto estamos sentados num sofá, com um computador à nossa frente e um gin na mão. 

É importante lembrarmo-nos de que Apolo criou também a lira (a poesia, a música). A pequena esperança que nos move pode estar mesmo aí, embora possamos também acreditar que esta música é tocada enquanto o Universo é engolido, como um pianista que dedilha as teclas de um piano enquanto a Polónia se deteriora.