Tão certo como “apaixonar-se sempre pelos homens errados”. Ulay, artista alemão batizado Frank Uwe Laysiepen, falecido em março deste ano, surge como exemplo indiscutível. Marina conheceu o amor da sua vida em Amsterdão, em 1975, já depois de ter sido casada com um membro do colectivo Group 70, a associação artística onde começou a carreira, em Belgrado. “Tinha acabado de fugir de casa, aos 29 anos, e a minha mãe de ir à polícia dizer que eu tinha desaparecido, ao que lhe responderam, ‘camarada Abramovic, estava mais do que na hora, ela devia ter mais que fazer’. A liberdade e cumplicidade que Ulay lhe propunha atirou-a para os tempos mais felizes da sua vida. Doze anos pela estrada fora, os dois, numa carrinha Citroen e com um cão por companhia. Quase amor e uma cabana, não fora a performance a dar-lhes uma existência mundana, de palco em palco, de experiência em experiência. Até à apoteose final: um casamento a meio da Muralha da China, depois de cada um ter percorrido 2 mil quilómetros a pé em três meses de caminhada. Ela a partir do Mar Bohai, ele a começar no deserto de Gobi. O percurso, mais uma performance de êxito, “The Lovers” de seu nome, chegou a acontecer em 1988, mas em vez da boda, o mundo assistiu à separação dos dois. Seguiram-se 22 longos anos sem se verem e sem se falarem. Até que, há dez anos, Ulay se apresentou na inauguração da mais bem sucedida performance de Abramovic, “The Artist is Present”, no MoMA, em Nova Iorque, e se sentou à frente dela, dando lugar a um dos momentos mais comoventes da história da arte performativa.
Texto de Alexandra Carita, no Expresso.