“A ideia de que os outros viam em mim alguém que não era eu tal como eu me conhecia, alguém que só podiam conhecer olhando-me de fora com olhos que não eram os meus e que me atribuíam um aspecto que estava destinado a ser-me sempre estranho, embora existisse em mim, embora fosse o meu aspecto para eles (um «meu» que, portanto, não existia para mim!) — uma vida na qual, embora sendo a minha para eles, eu não podia penetrar —, essa ideia não me deixou mais ter sossego.
Como suportar este estranho em mim, este estranho que era eu mesmo para mim? Como não vê-lo?, como não conhecê-lo?, como estar para sempre condenado a levá-lo comigo, em mim, à vista dos outros e, no entanto, fora da minha vista?”
Luigi Pirandello, em Um, ninguém e cem mil.