A felicidade dos outros é uma criação nossa

Deixo aqui uma passagem brilhante de Goethe, no seu livro “Werther”:

“Visto que somos assim feitos de modo que tudo comparamos connosco e nós a tudo nos comparamos, é evidente que, para nós, a felicidade ou a desgraça residem nos contrastes que vemos ou que julgamos ver. É por isso que não há nada mais perigoso do que a solidão. A nossa imaginação, naturalmente inclinada a exaltar-se pela poesia, cria em si uma série de entes, de que nós ficamos a ser os últimos: tudo o que está fora de nós nos parece magnífico; para o mundo dos nossos sonhos afigura-se-nos muito mais perfeito do que é realmente. E isto é muito simples: como sentimos que nos falta qualquer coisa, quaisquer qualidades, supomo-las existentes nos outros, aos quais, ainda por cima, atribuímos as que nós próprios possuímos e mais um certo estoicismo ideal. Deste modo, esses entes completamente felizes e perfeitos não são mais do que uma criação nossa, que nos desanima e desalenta se estabelecermos a comparação.”