Nunca chegará o fim do mundo
se eu lembrar a tua voz
e depois for lembrada
a minha voz, e muito mais tarde
ainda, fiel memória,
a conjurar as trevas e as fossas,
arrancar do silêncio as imperceptíveis
perguntas dos olhos cegos: onde estás?, onde estás?,
onde estás?, e nenhuma resposta
se erguer na terra
à excepção de uma flor.

Màrius Sampere, em Resistir ao Tempo.
Há dias em que em ti talvez não pense
a morte mata um pouco a memória dos vivos
é todavia claro e fotográfico o teu rosto
caído não na terra mas no fogo
e se houver dia em que não pense em ti
estarei contigo dentro do vazio.

Gastão Cruz
(20/07/1941 - 20/03/2022)

Quando foi a II Guerra Mundial, os nazis metiam os judeus nos fornos e mataram pessoas extraordinárias. Aqueles que fogem agora dos seus países de origem por razões políticas são pessoas como nós. Se calhar gostavam de estar a escrever, gostavam de estar a pintar, e tiveram de deixar tudo. 

Entrevista à pintora Graça Morais, no Expresso.

era como se nos disséssemos adeus de dois comboios que seguiam em sentidos opostos. 

Bohumil Hrabal, em Uma solidão demasiado ruidosa. 

Todos os dias, dez vezes ao dia, me pergunto, admirado, como pude afastar-me tanto de mim.

Bohumil Hrabal, em Uma Solidão Demasiado Ruidosa

Penso em ti, logo, existo.

Coimbra de Matos (1929-2021)


Into the darkness, or is it the light?
Should I be waking up
Or finding a place to sleep. 

No fim do meu sofrimento
havia uma porta.

Louise Glück, no livro A Íris Selvagem.

Recomeça
se puderes
sem angústia
e sem pressa
e os passos que deres
nesse caminho duro
do futuro
dá-os em liberdade. 
Enquanto não alcançares 
não descanses
de nenhum fruto
queiras só a metade. 

Miguel Torga, citado por Pedro Strecht, no livro Harmonia.