As pessoas tendem a desaparecer.
Um dia fazem-nos rir e depois já não estão.
Um dia telefonam-nos todos os dias
para saber como estamos,
e agora já não consegues sequer lembrar-te das suas vozes.

Um dia disseram sempre
e sempre acabou por ser nunca mais.

As pessoas parecem-se com fantasmas.
Aparecem, seduzem, acreditamos nelas,
assustam, brilham e desaparecem.

Partem e, de repente, já não existem,
como se nunca tivessem existido.

Chegamos a convencer-nos de que as sonhámos.

Eu sou uma delas.

Morrer, no nosso caso,
é uma redundância.

Juan Vicente Piqueras, em Instruções para atravessar o deserto.