Ninguém me pergunta por que razão vou parar à natação. Vou para aprender a nadar. Sobretudo, vou para vencer o pânico que acumulei fora de pé, sem controlo, escapando-me ao que não toco ou sinto.
Por que razão então alguém nos pode perguntar se temos mesmo de ir para a terapia, se precisamos? O que é isso de precisar? Vamos para não termos receio de ficar fora de pé. Vamos, nos dois casos, para ficarmos bem à tona.
Precisar é uma palavra, essa sim, que deve ser bem medida. Quando perguntamos ao outro se ele realmente precisa de fazer determinada coisa, estamos a arredá-lo do seu objectivo. Estamos a lançar-lhe o desconforto que às vezes é apenas nosso. Nosso perante algo que teimamos em desconhecer e rejeitar. No fundo, somos nós que tememos precisar: da terapia, da natação, de comprar uma coisa que nos deixe feliz, de voltar a ligar a alguém que já foi nosso amigo.
“Achas que realmente precisas de fazer terapia?” Não tenho dúvidas. Preciso de cada hesitação minha que me faz depois encontrar as palavras que, afinal, estavam cá dentro e formam inesperadamente uma resposta. Preciso de apaziguar sentimentos. Preciso de desvalorizar coisas sem importância.
Inês Maria Meneses, em O coração ainda bate.