Imagina que vivias num mundo onde não existissem espelhos. Sonharias com o teu rosto, imaginá-lo-ias como uma espécie de reflexo exterior do que houvesse em ti. E depois, supõe que, aos quarenta anos, te mostravam um espelho. Imagina o teu pavor. Terias visto um rosto totalmente estranho. E terias percebido nitidamente aquilo que te recusas a admitir: o teu rosto não és tu.
Milan Kundera, em A Imortalidade.