Sentado num comboio olho a paisagem
e de súbito, fugaz, passa uma vinha
que é o lampejo de alguma verdade.
Sair do comboio seria um erro
porque então a vinha desapareceria.
Amar é um lugar, e há sempre alguma coisa
que mo revela: um telhado longínquo,
a estante vazia de um director de orquestra,
apenas com uma rosa, os músicos tocando sós.
O teu quarto ao clarear o dia.
E, como é óbvio, o canto daqueles pássaros
no cemitério, numa manhã em Junho.
Amar é um lugar.
Perdura no mais fundo: é donde vimos.
E é o lugar onde vai ficando a vida.
Joan Margarit, no poema Amar é um lugar, do livro Misteriosamente feliz.