Nos últimos tempos, comecei a encontrar com frequência a palavra "ghosting", um neologismo que já entrou nos dicionários de língua inglesa. O termo designa o súbito e completo desaparecimento como forma de terminar uma relação interpessoal. Não sei bem se é quem desaparece que se torna um fantasma, ou se é o outro que fica num estado fantasmático. Em qualquer caso, o "ghosting" é uma brutalidade suave, uma violência feita de mansinho. Evitando o acto de ruptura, mas não deixando de romper, é um comportamento que sugere imaturidade, narcisismo, um modo cobarde de viver com os outros. O desaparecimento abrupto e sem explicações numa relação amorosa é inaceitável, embora se compreenda no contexto de contactos epidérmicos ou fugazes, menos dados à empatia. E o desaparecimento entre amigos? Pode um amigo desaparecer? Podemos desaparecer a um amigo? A amizade é uma coisa que desaparece? Haverá um protocolo que não seja o confronto? Há sequer protocolos adequados ao fim de uma amizade? E o que quer dizer a amizade?