As pessoas que perderam alguém há pouco tempo têm um certo olhar, reconhecível apenas para aqueles que viram esse olhar no seu próprio rosto. Vejo-o no meu rosto e já o vi no rosto de outros. É um olhar de extrema vulnerabilidade, nudez, transparência. É o olhar de alguém que sai do consultório do oftalmologista diretamente para a luz brilhante do dia, com os olhos dilatados, ou de alguém que usa óculos e que, subitamente, é obrigado a tirá-los. Estas pessoas que perderam alguém sentem-se nuas porque se acham invisíveis. Eu senti-me invisível durante um período de tempo. 

Joan Didion, em O ano do pensamento mágico.