Lucia Berlin, em Manual para mulheres de limpeza.
O único motivo por que vivi tanto tempo foi ter largado o meu passado. Fechar a porta à dor, ao arrependimento, ao remorso. Se os deixar entrar, basta uma nesga autocomplacente, zás, a porta abre-se por inteiro e eis que entra uma torrente de dor que me rasga o coração e me cega os olhos de vergonha.
Lucia Berlin, em Manual para mulheres de limpeza.
Feira do Livro #1
Às dores inventadas
Prefere as reais.
Doem muito menos
Ou então muito mais...
Alexandre O'Neill, em Poesias Completas & Dispersos
Amar foi durante muito tempo
gravar iniciais adolescentes,
no fuste das tílias.
Era então uma espécie
de idade de ouro do amor.
Mas tive de aprender à minha custa
que amar pode ser tão envolvente
como um polvo:
ama-se em muitas frentes.
Aprendi que amar, entre outras coisas,
é também navegar as águas da noite
adultamente
sem bússola e sem cautelas,
à proa fugidia dum batel.
E que, em casos mais desesperados,
é ir aos trambolhões de mar em mar.
Tumultuosamente. Sem ser correspondido.
E em chamas, se preciso for.
gravar iniciais adolescentes,
no fuste das tílias.
Era então uma espécie
de idade de ouro do amor.
Mas tive de aprender à minha custa
que amar pode ser tão envolvente
como um polvo:
ama-se em muitas frentes.
Aprendi que amar, entre outras coisas,
é também navegar as águas da noite
adultamente
sem bússola e sem cautelas,
à proa fugidia dum batel.
E que, em casos mais desesperados,
é ir aos trambolhões de mar em mar.
Tumultuosamente. Sem ser correspondido.
E em chamas, se preciso for.
A. M. Pires Cabral, em A noite em que a noite ardeu.
Somos seres imperfeitos e morais, conscientes da mortalidade mesmo quando a afastamos, defeituosos pelas nossas próprias complicações, tão programados que, quando sofremos a perda de alguém, também sofremos, para o melhor e o pior, a perda de nós mesmos. A perda daquilo que éramos. E que não somos mais. E que um dia não seremos de todo.
Joan Didion, em O ano do pensamento mágico.
As pessoas que perderam alguém há pouco tempo têm um certo olhar, reconhecível apenas para aqueles que viram esse olhar no seu próprio rosto. Vejo-o no meu rosto e já o vi no rosto de outros. É um olhar de extrema vulnerabilidade, nudez, transparência. É o olhar de alguém que sai do consultório do oftalmologista diretamente para a luz brilhante do dia, com os olhos dilatados, ou de alguém que usa óculos e que, subitamente, é obrigado a tirá-los. Estas pessoas que perderam alguém sentem-se nuas porque se acham invisíveis. Eu senti-me invisível durante um período de tempo.
Joan Didion, em O ano do pensamento mágico.
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