Deveríamos ter sonhado com mais força.
até que as imagens do sonho
ficassem seladas como figuras totais
em qualquer parte do tabuleiro unânime.
Deveríamos ter feito dos olhos
um instrumento de música,
para concentrar de outra maneira
os efémeros intervalos do nada.
Deveríamos ter convertido cada abraço
num grito único da matéria sem dono
e levado entre os dentes uma bandeira
de despedidas,
quase como memória do que podia ter sido
como ondulante sinal de saudação.
E acima de tudo
deveríamos ter redefinido a morte.
Mas tudo poderia ter sido apenas som.
Deveríamos ter recolhido a sombra
das coisas
e tê-la guardado toda junta a um canto
do mundo,
para nela esconder a triste anormalidade
do pensamento.
como ondulante sinal de saudação.
E acima de tudo
deveríamos ter redefinido a morte.
Mas tudo poderia ter sido apenas som.
Deveríamos ter recolhido a sombra
das coisas
e tê-la guardado toda junta a um canto
do mundo,
para nela esconder a triste anormalidade
do pensamento.
Deveríamos ter convertido o amor
num censo dos fundamentos
do esquecimento,
para que só aí crescesse,
como um estranho animal
que não ocupasse nenhum lugar no presente
e saltasse do passado para o futuro.
E deveríamos ter encolhido as palavras
até as transformarmos em pedras neutras
para pavimentar com elas o caminho impassível
ou atirá-las ao ar demasiado sonoro
como mãos suplentes do homem.
E acima de tudo
deveríamos ter redefinido de novo a vida.
Mas embora em ambos os casos
teria o homem sido dispensado
de ser este sinal que nada entende
nem reconhece,
a sua forma teria continuado a ser um sinal irónico
entre novas definições
também seguramente tautológicas,
da vida e da morte.
num censo dos fundamentos
do esquecimento,
para que só aí crescesse,
como um estranho animal
que não ocupasse nenhum lugar no presente
e saltasse do passado para o futuro.
E deveríamos ter encolhido as palavras
até as transformarmos em pedras neutras
para pavimentar com elas o caminho impassível
ou atirá-las ao ar demasiado sonoro
como mãos suplentes do homem.
E acima de tudo
deveríamos ter redefinido de novo a vida.
Mas embora em ambos os casos
teria o homem sido dispensado
de ser este sinal que nada entende
nem reconhece,
a sua forma teria continuado a ser um sinal irónico
entre novas definições
também seguramente tautológicas,
da vida e da morte.
Roberto Juarroz, em Poesia Vertical.