Esta espectral textura da obscuridade, esta melodia nos ossos, este sopro de silêncios diversos, este ir para baixo por baixo, esta galeria escura, escura, este afundar-se sem se afundar.

O que estou a dizer? Está escuro e quero entrar. Não sei o que dizer mais. (Eu não quero dizer, eu quero entrar.) A dor nos ossos, a linguagem destruída a pauladas, pouco a pouco reconstruir o diagrama da irrealidade.

Possessões não tenho (isto é seguro; enfim algo seguro). Depois uma melodia. É uma melodia plangente, uma luz lilás, uma iminência sem destinatário. Vejo a melodia. Presença de uma luz alaranjada. Sem o teu olhar não vou saber viver, também isto é seguro. Suscito-te, ressuscito-te. E disse-me que saíra para o vento e fora de casa em casa perguntando se estava.

Passo nua com um círio na mão, castelo frio, jardim das delícias. A solidão não é estar parada no molhe, de madrugada, olhando a água com avidez. A solidão é não a poder dizer por não poder circundá-la por não poder dar-lhe um rosto por não poder torná-la sinónima de uma paisagem. A solidão seria esta melodia destruída das minhas frases.

Alejandra Pizarnik, em Antologia Poética.