Que outra coisa fizeste na vida senão esperar a morte? É a tua maior preocupação. Debalde a arredamos: a vida não é senão uma constante absorção na morte. Então para que nasci? Para ver isto e nunca mais ver isto? Para adivinhar um sonho maior e nunca mais sonhar? Para pressentir o mistério e não desvendar o mistério? Levo dias, levo noites a habituar-me a esta ideia e não posso. Tenho-te aqui a meu lado. Nunca se cerra de todo a porta do sepulcro. Estou nas tuas mãos… Adeus sol que não te torno a ver, e água que te não torno a ver. Árvores, adeus árvores que minha mãe dispôs; adeus pedra gasta pelos seus passos e que meus passos ajudaram a gastar. Para sempre! para todo o sempre!
Raul Brandão, em Húmus.