O que procuro para a vida não é uma desculpa, mas exactamente o seu contrário: é o perdão que busco. Descubro, afinal, que se não levar em conta a minha liberdade, todo o consolo é enganador, mera imagem reflectida do desespero. De facto, assim que o desespero me diz – «perde a esperança, o dia não passa de um momento de trevas entre duas noites», há uma falsa voz que me grita – «tem confiança, a noite não é mais que um momento de trevas entre dois dias».
A humanidade, porém, não é de palavras que precisa; anseia por um consolo que ilumine. E mesmo aquele que deseje tornar-se mau — agir como se todos os actos fossem defensáveis — deve ter ao menos a bondade de notar quando o consegue.
Ninguém pode enumerar todos os casos em que o consolo é uma necessidade. É impossível saber quando cairá o crepúsculo, impossível enumerar todos os casos em que o consolo se fará necessário. A vida não é um problema que possa resolver-se dividindo a luz pela escuridão ou os dias pelas noites, mas sim uma viagem imprevisível entre lugares que não existem.
Stig Dagerman, em A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer.