A beleza da imperfeição

O conjunto dos meus sintomas consiste na atracção que sinto por tudo o que está estragado e rachado, e por tudo o que é imperfeito e defeituoso. Tenho particular interesse por formas imperfeitas, erros na criação, becos sem saída. Por tudo aquilo que deveria desenvolver-se e que, por qualquer motivo, ficou atrofiado ou, pelo contrário, excedeu as medidas previstas. Por tudo o que escapa à norma, que é demasiado pequeno ou demasiado grande, exuberante ou incompleto, monstruoso e repugnante. Formas que não obedecem à simetria, que se multiplicam, que rebentam pelas costuras, que desabrocham por todos os lados ou que, pelo contrário, reduzem a diversidade à uniformidade. Não tenho qualquer interesse por acontecimentos que se repetem, aqueles que são atentamente tratados pela Estatística e que todos celebram com um sorriso feliz e familiar no rosto.

Olga Tokarczuk, em Viagens.