Espera um minuto

É o título de um conto maravilhoso, escrito por Lucia Berlin.

Nesse texto, ela relata a sua relação com a doença terminal da irmã.

“Suspiros, os ritmos dos nossos batimentos cardíacos, as contracções do parto, orgasmos, todos confluem para a mesma cadência, como relógios de pêndulo postos lado a lado que depressa começam a bater em uníssono. Pirilampos numa árvore que acendem e apagam como um só. O Sol nasce e põe-se. A Lua sobe e desce e, habitualmente, o jornal matutino chega ao alpendre às seis e trinta e cinco. O tempo pára quando alguém morre. É claro que pára para eles, talvez, mas, para os enlutados, o tempo fica descontrolado. A morte vem demasiado cedo. Ele esquece-se das marés, dos dias que se tornam mais compridos e mais curtos, da lua. Rasga o calendário. Nós não estamos à nossa secretária ou no metro ou a preparar o jantar para os miúdos. Estamos a ler a People, numa sala de espera de cirurgia ou a tremer enquanto fumamos numa varanda a noite toda. Olhamos para o infinito, sentados no nosso quarto de infância com o globo terrestre na secretária. Pérsia, o Congo Belga. A pior parte é que, quando voltamos à vida normal, as rotinas, as marcas dos dias, parecem mentiras sem sentido. Tudo é suspeito, um truque para nos arrastar de volta à plácida implacabilidade do tempo.”

Lucia Berlin, no conto “Espera um minuto”, do livro Manual para mulheres de limpeza