Cada casa contém um coração.
Talvez no sótão,
talvez debaixo da cama
ou dentro da almofada.
Um coração ligado à casa,
com as raízes presas
e as artérias agarradas.
O sangue a correr
pelas paredes
pelos tubos
pelo entulho.
Um coração que se ouve
baixinho
no silêncio
nos dias de chuva.
O batimento no sótão
como trovoada
como tambores.
A mãe foi embora,
depois eu fui embora.
Tu, de certa maneira,
foste embora.
Todos fomos embora.
E o coração
apodreceu
calou-se
secou.
Imagino que
um dia
voltarei àquele sótão
para me certificar
de que esse coração
ainda bate.